Quem sou eu

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sejam bem vindos a meu cantinho, rodeados de rosas e solidão... uma cantinho repleto de amor, e morte, onde meus delírios como poeta ficam gravados. Não sinta pena de mim, não sinta medo, apenas retire destes trechos algo bom, algo de valor para uma ventura melhor. Estes poemas, estes conhecimentos aqui colocados são apenas delirios poeticos, criados apartir de uma mente delicada e intimadora, ate mesmo pra mim. Saboreie com todo prazer... luxuria. Beba destes versos aqui escrito como vinho... lambuze-se, até a ultima gota...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O estranho

A música estava alta. A batida entrava nos ouvidos de todos com certa força. Alguns se encontravam na pista de dança. O suor descia aos lábios. Deixava os cabelos mais cheios de brilho. A música e os corpos, com todos seus movimentos sensuais, era um convite para um novo romance. Alguns lábios abriam-se esperando ser tocados por outro. Lábios que molhados de prazer, molhados de excitação. Num canto, mais ainda na pista de dança, mas perto de uma mesa de bilhar, uma garota, gemia, e se contorcia de prazer ao ser acariciado por seu parceiro. Uma das mãos dele revezava entre aperta seus seios, suas nádegas ou sua nuca. Enquanto a outra mão segura o taco, ao qual segundo antes havia feito uma jogado, que impressionou sua companheira e seu amigo. Amigo que agora se deliciava com mais um gole de uma bebida que o fazia suar. Talvez o índice de álcool na bebida fosse forte, pois depois de cada gole dado, seu rosto mudava a feição. O bar estava cheio. Algumas garotas, na escada, conversavam, esperando que a noite fosse boa. Que a noite fosse divertida. Que na manhã do outro dia, suas cabeças estivessem doendo, pelo excesso de álcool no corpo. Ou amanhecessem num quarto de algum hotel barato com um estranho ao lado. Um estranho que parecesse lindo e encantador na noite, mais naquele momento era igual a todos.

Num canto, próximo a janela. Uma mesa com cinco pessoas. Dois rapazes. Um vestia jaqueta preta de couro. Calça jeans, com algumas partes rasgadas, apesar de ter um sinal de gastas não parecia que os rasgões fossem por causa de muito usadas, mas sim por estar na moda entre as pessoas daquela idade. Suas botas, pretas, brilhavam com as luzes que piscavam no bar. O outro vestia umas daquelas camisas com nome de banda estampada na frente e atrás. Calça e botas como no primeiro. Já as garotas, ha que estava próxima a janela e de frente para o primeiro rapaz, vestia uma mini-saia. Uma blusa preta, onde mostrava a superior de seus seios, assim como seu sutiã. Seus cabelos numa espécie de moicano caiam sobre o rosto, descendo até os lábios que brilhavam num vermelho intenso. Lábios que expressavam um sorriso todas as vezes que o cara de jaqueta a olhava. Uma segunda garota, abraçada e às vezes sendo beijada pelo rapaz de camisa de banda. Seu vestido branco tomava várias cores e brilho, de acordo com as luzes que piscavam num ritmo alucinante. Vestido que mal tocavam os joelhos. Onde as mãos de seu amante estavam. E que às vezes adentrava entre suas pernas, fazendo-a morder os lábios. Fazendo gemer de prazer. Quando o beijava. A ultima garota, que se deliciava com cerveja, assim como as outras, porém parecia mais senhora de si. Parecia menos iludida pela noite e suas luzes. De costas para janela, podia ver o bar todo. Desde os caras, que neste momento discutiam na mesa de bilhar, e a garota separando-os. Podia ver também a pista de dança, que estava cheia. Porém não podia ver, já que estava de costas para a janela e claro para a rua.

Na calçada, em pé, um homem. Cabelos brilhando pelo clarão da lua, que mesmo desalinhados e mal penteados pareciam que foram presos assim. Sua camisa, de botões, deixava mostrar seu colar e um cordão com uma cruz como pingente. Camisa que descia até as mãos. Negra como a noite, fazendo-o desaparecer na escuridão. Negras como sua calça e suas botas.

Ele olhava, sem piscar para a garota de costas para a janela. Seus olhos brilhavam como a lua. Seus lábios finos deixavam sair um sorriso. Mais um sorriso que encoberto pela neblina quase não podia ser visto. Um sorriso apagado. Como uma folha em branco. Ele não apenas admirava ela. Ele se deslumbrava. Como se diante de um anjo.

Ela, na janela, ainda não tinha prestado atenção no rapaz. Estava de costas para ele. Prestando atenção no movimento intenso dentro do bar. Mas começou a sentir-se com calor. Um calor que estava na pele. Um calor que deixou seus lábios molhados.

Depois de uns longos minutos. Onde a lua o observava admirar a sua amante na janela. A lua que às vezes, como um lençol de veludo, como uma sombra, as nuvens a encobria. Como num chamado, ele olhou para o chão. Podia se ver uma lágrima sair de seus olhos gélidos. Brotando como uma nascente esquecida pelo tempo. Lindo. Caindo. A lágrima logo depois de nascida escorregou sobre sua pele pálida, caindo no chão. Oh! Como era triste. Ele olhou outra vez para ela e começou a andar para escada onde se encontrava a entrada daquele bar.

Ele chegou ao primeiro degrau, começando a subir. Notou que em alguns degraus acima, duas garotas conversavam. Educadamente:

- Olá! Boa noite! – falou, num tom calmo e sedutor – desculpe o incômodo, será que posso passar?

Elas, admiradas pela beleza do rapaz. E ele apenas olhava ambas, silenciosamente. Seus olhos silentes. Seus olhos frios. Então uma delas aproximou-se:

-Oi gatinho – disse ela, num tom desafiador – pode me fazer companhia? Darei passagem apenas se ficar ao meu lado na festa.

Ele apenas a olhou, do mesmo modo. Deixou aparecer um fio de sorriso. Como uma lua crescente, que da vida à noite. Então num movimento rápido agarrou em seu pescoço, levantando-a bem acima, sem parecer usar nenhuma força. Falando calmamente como da primeira vez.

-Senhorita, ó dama. Sei que sua beleza é doentia. Sei que a noite entre nós poderia ser perfeita como a luz da lua prateada. – ele sorriu, mas um sorriso sofrido. Como um choro. – mas é perfeita além de nós. Ó veja como tantos rapazes procurando ser conquistado por um hálito assim como o seu. – levantou mais um pouco ela enquanto sua amiga pedia, suplicando para colocá-la no chão. – então vá atrás deles, pois não mereço tanta luxuria. E deixe-me passar.

Deixando a cair. Como pouco ar correndo em seu corpo. Já que as mãos dele, mesmo parecendo veludo. Mesmo tão doce e divina. Impediram que o ar circulasse em seu corpo. Ela no chão. Lágrimas de terror caiam em seus lábios. Borrados de batom barato.

Ele apenas olhou para ela. Abaixou os olhos como um pedido de desculpas. Logo depois seguiu o caminho que tinha iniciado, antes de ser interrompido.

Passos leve. Passos calmo.

Entrou no bar. Neste momento o som tocava algo rápido. Vocais melódicos. Vocais tristes. Soturnos. Numa batida eletrônica rápida. Procurou, num primeiro instante, saber em que direção ela estava. Como se precisasse. Como se o perfume daquela dama, o seu aroma, não o tivesse enfeitiçado. Ela não estava mais em sua cadeia. Seu aroma, doce e intenso, vinham da área aonde todos iam para dançar. Sem se importar. Nem mesmo com intenção de ir a sua procura, se direcionou ao bar. Sentando-se logo após.

Pediu uma bebida, adocicada e alcoólica. E ficou saboreando.

Depois de alguns minutos. Depois de a música chegar ao seu fim. Ela saiu da área onde dançara e se encaminhou para a mesa onde estava. De lá, sentada, notou o estranho. Que com um olhar singelo. Olhar transparente. Um olhar que a procurou dentro da alma. Deixou se arrepiar. Despertando seu sorriso. Lábios que ainda molhados de suor, depois de alguns minutos de dança.

Ele não parava de olhar para ela. Olhar singelo. Ela também não parava de o olhar. Apesar de ela virar para alguém quando perguntas a procuravam. Perguntas que tiravam sua concentração. Ela respondia e voltava o olhar, torcendo por sua imagem espetacular ainda estar lá. Ela sentiu seu corpo esquentar. Sentiu-se excitada. Se estivesse em pé, talvez perdesse força nas pernas. Podia sentir que sua roupa intima, estava molhada de prazer. Prazer que ele transmitia apenas no olhar.

Como um fleche. Como um relâmpago que corta o céu, durante uma tempestade. Um relâmpago que precede o terror. Em sua mente jurara já ter visto aquele olhar. Aquele sorriso. Ele, como se adivinhasse o que ela pensou. Virou-se. Ela abalada. Procurou, revirando sua memória, algo que o fizesse lembrar ele, sem êxito.

Logo depois deste instante. Desta falta de lembrança. Ele com um olhar diferente procurando ela outra vez, logo depois se levantando e se direcionando a saída. Ela o notando, o observando, admirando. Cada passo dele. Ninguém o percebia. Ninguém o notara. Sua imagem desapareceu. Ela ainda sentada, ainda revirando a cabeça, revirando sua memória, em busca daquele rosto, daquele olhar, daqueles lábios. E num instinto, levantou-se da cadeira onde estava e andou em direção de onde ele tinha saído, sem ao menos responder aos seus amigos que indagava aonde ela iria.

Chegando à rua. A lua brilhava mais forte ainda. Num primeiro instante não o encontrou. Apenas a lua. Essa rainha da noite, da escuridão. Apenas a lua no céu, sem ninguém na rua. E ele entrando numa rua, na quadra seguinte. Então ela seguiu atrás. Quando chegou à quadra onde ele virou, não o encontrou mais. Porém ela seguiu, já que a rua parecia ter apenas uma saída. Andando, e ainda revirando a memória, procurando algo que lembrasse ele. Uma voz em sua mente a fazia seguir. “siga meu amor, venha ao meu alcance minha rainha. Sou um inútil sem seus lábios. Sou frio. Mas sinto-me vivo com seu calor.”

“Venha minha amante. Seja meu alimento hoje à noite. Venha direto ao seu predador.”

A voz insistia em sua cabeça. “siga-me, não deixe nem mesmo essa linda lua tirar sua concentração” indicando um caminho, silencioso e tranqüilo a ser seguido. Uma rua, linda, onde casas antigas e monumentais atravessavam séculos, dando um ar antigo nas redondezas cheias de prédios.

A voz silenciou-se. E algumas dezenas de metros a sua frente, viu uma sombra. Uma sombra no meio da escuridão. A neblina forte. As luzes fracas dos postes. O chão de paralelepípedos. A lua que brilhava naquela flutuante neblina. Fria. Densa. E a sombra parada. Olhando na direção dela. Sentiu medo. Mas o calor em seu corpo, como sentiu pela primeira vez, voltou. Sentiu-se outra vez excitada.

Então, como uma alucinação, a imagem desapareceu. E em questão de segundos. Num piscar de olhos. Sentiu-se agarrada por trás. Uma mão segurava seu pescoço. Uma mão que mesmo apertando forte, mesmo não deixando seu sangue circular normalmente, era aveludada. Era macia. Sentiu uma respiração em sua nuca. Como um beijo.

- De onde conheço você? – ela perguntou – diga-me!

Ele apenas sorriu. Virou ela de frente e a beijou. Beijou-a como ninguém antes. A neblina cobriu os dois. O frio percorreu a espinha dela. O calor desceu junto com sua mão, que neste momento estava dentro de suas calças. Dentro de sua calcinha. Deixando mais molhada que antes. Fazendo-a respirar mais forte. Fazendo desvia seus lábios para gemer de prazer.

- Não tem medo de mim? – ele disse, tirando os seus lábios do dela, com um sorriso melancólico.

- Não. Deveria?

- Sim. Toda presa tem medo de seu predador. – ele disse depois se virou para olhar a lua, que neste momento desaparecerá atrás das nuvens.

O seu rosto vagava pela sua memória. Aquele lindo e pálido rosto. Ela já tinha visto ele, esse olhar triste, essas palavras melancólicas. Mas não sabia onde. Em algum momento em seus 22 anos já tinha visto ele. Mas onde.

Ele olhava tristemente para ela. Com seus lhos chorosos. Olhos feridos na alma. Colocou as mãos nos cabelos dela. Levantando-os. Cabelos negros, lisos, brilhantes. Levantando até mostrar uma cicatriz. Nesse momento ela se lembrou de algo. Lembrou-se do dia que aquela cicatriz surgiu na sua pele. Como uma tatuagem. Lembrou-se daquele maldito que tentou abusar de sua adolescência. De sua juventude. Naquela nebulosa noite, em que um herói noturno, uma sombra, salvou sua inocência. E sumiu sem ser visto. Enquanto aquele obsceno e maldito estuprador, como se atacado por feras foi morto.

Essa memória surgiu. Surgiu junto com o rosto daquele desconhecido. Era o mesmo. Mesmo depois de quase sete anos. O mesmo sorriso triste. Mesma face pálida. Lembrou-se dos sonhos com ele. Onde acordava molhada. Sonhava com ele no seu quarto. E quando acordava ainda o via parado, próximo a janela. Mas quando levantava para ligar a luz ele sumia. Como uma imagem de espelho.

- lembrou-se... – ele disse. Suas palavras eram calmas, como um rio virgem. Que próximo a nascente era fraco. Sem correnteza nenhuma. – ó meu amor.

- Beije-me – ela disse.

Ele pegou-a pelo pescoço. Beijando seus seios. Tirando sua blusa. Enquanto levava ela, para uma praça desabitada no momento. As esculturas e imagens de concreto da praça eram lindas. Mas não conseguia manter os olhos abertos de tanto prazer. Ele tirou sua blusa. Desabotoou seu sutiã. Enquanto ela já tinha tirado sua camisa. Rasgando-as e deixando alguns botões voarem e caírem no chão. Seu corpo tão pálido quanto o rosto era lindo. Musculoso. Com algumas tatuagens. Como um símbolo egípcio bem no peito esquerdo. Ele já com seu órgão sexual já fora de suas calças. Começou a acariciar ela. Depois de tirar a calça dela que ela mesma começou a desabotoar. Ele penetrou-a. com força. Ela gemia de prazer. Às vezes caladas por um beijo. Sentiu gozar. Mas ele não. Com os braços em volta do pescoço, como se a enforcasse ele penetrava sua vagina com força. Ele estava de frente para ela, suas mãos levantavam suas penas enquanto penetrava-a. depois de alguns instantes, ou talvez minutos. Não lembrava bem o passar do tempo. Ela perdeu toda a noção de tempo. Ele a virou de costas. Ela nem lembrava que ainda estava de calcinha, porém durou pouco tempo. Pois ele com força rasgou ela. Ela de costa para ele, com o pé direito num banco de concreto. Deixando ser penetrada por trás. Com carinho. Ele colocou seu pênis devagar. Para se acomodar. Beijando-a. depois, como um cavalo com raiva, socava sua bunda com força. Ela uivava. Como uma loba uiva para a lua. Ela gemia. Ele a beijava-a. Em silencio. Não lembra quantos orgasmos teve, quando ele a penetrou por trás. Mas sentiu suas pernas ficarem bambas. Até que sentiu o órgão dele crescer dentro de si. Sentiu-o gemer em seus ouvidos. Sentiu-se cheia de gozo de seu parceiro. Sentiu os dentes de seu parceiro entrar no pescoço. Olhando para a lua, sentiu-se cansada. O corpo levemente morrendo. Até que a escuridão tomar conta de sua visão.

Acordou em seu quarto. Nua. Com cheiro de Amor noturno. Cheiro de gozo. O sol entrava pela sua janela. Não sabia que horas ela. Mas não importava. Sentia-se satisfeita. O vento quente fazia o lençol de parede dançar. Branco como as nuvens. Ela levantou-se, olhou sua imagem no espelho. Nua. Ficou imaginado sua noite. Não sabia quem era seu amante. Mas queria o encontrar outra vez. Mas, com um susto, olhou em seu pescoço. Uma mordida. Deixou ainda as marcas de sangue no local. Vermelho. Sentiu medo. Mas a fez ficar molhada outra vez. Logo depois de sentir-se excitada, notou uma rosa no seu leito e embaixo um bilhete.

A rosa tinha o perfume de seu amante. Tão saboroso tão doce. Mas a rosa estava murcha, morta. E o bilhete, escrito a mão dizia.

“apenas vim buscar minha recompensa por aquela noite... desculpe. Ass. Um Estranho.”

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Encontro ao anoitecer

O sol caindo por entre as árvores, morrendo. Seus raios cada vez mais opacos, frios. Como se uma tristeza imensa absorvesse seus raios quentes e claros os transformando em simples palavras vazias, silenciosas. E por entre as nuvens seu leito tornava-se mais rápido, porém, não menos sublime e triste. A escuridão, já cortava nosso céu, pouco claro no momento. Então quando eu pensava que a noite e seu grandioso mar de estrelas haviam absorvido a claridade do dia, usurpando até o próximo amanhecer, eis que, como um derradeiro suspiro, um raio de luz sai percorrendo a galope por detrás das nuvens. Mas este raio de luz era fraco. De uma eufórica corrida até uma agonizante caminhada, sucumbindo na face pálida e gentil de minha amada que se aproximava, onde desapareceu dando lugar ao mar de estrelas e a lua, que já brilhava acima de nós.
“Como ela é linda.”
Caminhava como se flutuasse por cima da grama. Seus passos eram firmes e temerosos. Apesar da noite já ter iniciado seu reinado, minha deusa lua iluminava todas as suas curvas até a mais simples delas. O clarão noturno, o olhar da lua, mesmo que como uma lágrima caída, como um rabisco de luz também iluminava a rosa espremida na mão, com toda a delicadeza que essa rainha de meus pensamentos pode ter. Sabia ela, que além de todo seu corpo, somente as rosas, essas sublimes e singelas rainhas de beleza meus olhos buscavam.
“Como descrever ela... Divina, seria esta a palavra.”
Ela percorria todo o caminho, com aquele oculto sorriso nos lábios. Lábios ao qual, como todos os nossos encontros, seriam banhados por lágrimas que o vento e a brisa secariam em breve. Seus olhos, lastimosos olhos, percorriam todas as moradas procurando pelo ocupante. Até encontrar-me. E um fio de lágrima sair de seus olhos. Seus longos cabelos escuros, leves, com a brisa pareciam que recebiam vida. Uns poucos fios caiam em seu rosto, uns mais salientes, além de morrer em seus lábios, ainda roçavam seus fartos seios. Um lindo colar com uma cruz enfeitava seu pescoço, dando mais divindade a minha bela visão. Um vestido branco caia e escondia seus pés. Apertando e deixando mais aveludado e macio seus seios. Uma fita branca percorria toda sua cintura. Seus braços eram encoberto por umas luvas, que se iniciava nos cotovelos descendo até as delicadas mãozinhas. Algumas pulseiras e outras jóias nos pulsos davam um ar de ninfa nessa imagem angelical.
- Oi meu amor – ela disse, com uma voz que percorria meus sonhos, minha eternidade, meus desejos – passarei essa noite com você. Sei que deve estar pensando se não tinha um lugar melhor pra eu passar noite... Mas não tenho... – sua voz silenciou-se – gosto de deitar-me aqui com sua imagem percorrendo meus pensamentos. Sei que posso fazer isso em todos os lugares do mundo. Mas sinto que aqui, ao seu lado, isso parece ser mais real.
Adorava quando ela ficava nervosa assim. “Para um desconhecido, aquele anjo, era sempre assim, mas ela não me enganava. Silêncio. Oh menina, você fala demais.”
- imaginei você me silenciando, sempre fazia isso. Já que era o único que sabia quando estava nervosa, soltando palavras sem sentindo – seu tom melodioso e calmo era constante.
Daqueles lábios, daquela alma, daquela pessoa sentada ao meu lado, sabia quase tudo.
Ainda lembro como se fosse ontem... A chuva percorria a noite toda, uma constante chuva. Silenciosa, fina, sublime chuva. A lua de tão invisível apenas espiava por entre as nuvens negras que pairava no céu. E derrepente uma voz melodiosa, acompanhada de um piano chegou aos meus ouvidos. Não era apenas melodiosa, era triste. As notas percorridas pelo piano estavam se arrastando, mórbidas, porém grandiosas, perfeitas, lindas. Procurei em todas as janelas daquele lugar, de onde saia essa música. Já ia alta as horas da noite neste momento e quase todas as janelas daquela rua estavam fechadas, apenas uma mantinha-se aberta e iluminada. Como se a chuva havia cooperado comigo, a chuva tornou-se um sereno, e o vento forte que cortava as ruas calou-se transformando em uma leve brisa. Ao lado da janela, uma arvore serviu de escada para minha loucura. E lá estava ela, sentada ao piano. Seus dedos deslizavam por ele com toda suavidade que se podia fazer. Hipnotizado fiquei, não sei quanto tempo se passou, mas aquele galho duro e molhado transformou-se em um camarote de veludo. Só lembrei que não estava no camarote admirando esse anjo cantarola quando o galho a qual havia sentado cedeu com meu peso, e cai como uma maçã madura, que por motivos banais como altura, não pode ser colhida.
Não sei quanto tempo se passou quantos dias de delírios. Quando acordei estava num quarto, muito bem decorado e amplo. Todos os cantos daquele lugar havia rosas em vasos. E com um enorme susto, vi que ao meu lado estava aquela que cantava e encantava meus pensamentos. Com um livro no seu colo, sorrindo deu-me um olá, e explicou-me toda a situação que decorreu ao cair do meu acento na arvore até o momento de agora. Explicou-me que se assustou com o barulho de minha queda e a olhar pela janela me viu desacordado no chão. Com muita dificuldade colocou-me em seu quarto e ameaçou chamar a policia, mas depois de um delírio meu, onde citava a seguinte frase “não pare de cantar anjo lindo... encante meus sonhos.” Desistiu. E em dois dias de sono pesado em seu quarto, todas as vezes que tocava e cantava ao piano, em meu rosto nascia um belo sorriso. Conversamos por muito tempo e depois de esgotar nosso dialogo ficamos em silencio por um longo tempo, apenas nos olhando, que durou até meus lábios tocarem o delas.
- Lembrei de quando você me beijou pela primeira vez – ela disse, como se lesse meu pensamento – senti-me realizada naquela noite, você nem imaginava o quanto estava nervosa, ou talvez soubesse sim – parou por um breve tempo e sorriu.
E neste breve momento, neste breve segundo que durou este sorriso, essa dádiva divina, perguntei-me se não era um anjo este meu amor. Um desenho simples e ao mesmo tempo perpetuo e longínquo. Sabe aqueles arco-íris e seus lendários potes de ouro, que tentamos encontra, mas nunca encontramos pelo simples fato de nunca encontra o fim do arco-íris. “que sorriso”. Esses lindos lábios que nesta fração de minutos de aveludados e rosados, ficam finos saindo de uma bochecha caminhando até a próxima, como se corresse para satisfazer meus desejos. E essas bochechas, como nuvens brancas e rosadas, um misto de divindade com sedução. Mas sei que de uns tempos pra cá, este sorriso ganhou um toque melancólico, uma brisa fúnebre. E quase ao mesmo tempo em que este sorriso se abriu para mim, este lábio a qual me perdia, afogaram-se em lágrimas. Lágrimas que brotavam nesses lindos olhos, que como um rio virgem, me hipnotizava como as sereias faziam com os marinheiros. Elas percorriam toda a face dela, caindo e morrendo neste sorriso, nestes lábios.
- Gosto tanto de ficar nessas noites frias sentido seu calor – ela disse ainda afogada em lágrimas.
E continuou
- Ah meu amor! – chamou-me a atenção – como sei que sempre irá amar as rosas mais do que a mim – fazendo-me raiva como sempre, mas ela sabe que se engana – trouxe esta pra você. Ame-a, pois sei que não receberam o mesmo amor que o meu e nem com a mesma intensidade. Mas saiba que ela tem um aroma doce. – então ela colocou a rosa sobre meu nome, ao lado onde me sentava.
Então se levantou uns passos a frente e virou-se. Olhando para a lua, que neste momento derramava seu mais belo brilho sobre nós. Um vento corria no laço em volta de sua cintura e em seus cabelos, fazendo que ambos dançassem harmoniosamente numa valsa angelical. Que imagem esta na minha frente. Ela sorriu, ainda olhando para cima.
- Lembra uma vez, que eu sentada ao seu lado, em uma dessas nossas noites disse que escreveria um livro de poema, pois você inspirava-me. Hoje colhi essa maldita horta. Um prêmio a qual você me inspirou.
Vi mas uma lágrima, como um rio, que perdido em uma floresta, vaga... Docemente. Iluminado pela lua, pelas estrelas. Deixando a face da minha amada úmida, assim como seus lábios, onde este rio amargo desembocava. Maldito seja esta minha existência. Ou a falta dela. Toda beleza que irradiava daquele que amava, desapareceu. De uma imagem divina, perfeita, esculpida pelos anjos tornou-se uma estatua corroída pelo tempo, onde as rachaduras e ervas escondiam sua beleza. Sua imagem se tornou o espelho do desespero. O vento que antes, era o maestro na dança dos cabelos dela, agora com um sopro leve, tentava secar as lagrimas na face dela em vão.
“Oh meu anjo... para que tanto desespero, sabe que ti amarei, sabe que dos versos que saiam dos meus lábios, dessas palavras desarmonizadas apenas procuram seus ouvidos. Assim como meus olhos apenas buscavam seu sorriso.”
Como se sem força, seus joelhos a deixaram cair, um boneco sem as cordas, pois o tempo havia tirado todas elas. Essas cordas que eram sua paixão. Tentei levantar ela, num ato de desespero, sem êxito. Então abaixei, olhei pra ela. Ela respirava rápido e profundo. Então se levantou.
- Meu amor – falou caminhando em direção ao local onde eu estava sentado – sei que sou burra. Uma idiota. Mas ti amo, e não pretendo viver sem você – em um tom choroso, mas tranqüilo. Como um lago.
Correu o dedo, sobre o meu nome, gravado naquela pedra. E como se pudesse me ver, com um tom melodioso, desesperado.
-Ti amo. E não pretendo ficar mais uma noite viva sem você.
Sua voz saiu como um silente riacho morto. Era tão maldito. Tão mesquinho seu pensamento.
Ela olhou mais uma vez para a lua. O vento parecia cantar. Ela debruçada sobre nome, percorrendo o dedo sobre as palavras, que por causa do pouco tempo escrita, ainda mantinha-se original, sem rachaduras. Cinzas, jardim de rosas mortas, ou apenas o que sobrou delas, havia ao meu lado.
Eu em pé, alguns metros atrás dela apenas admirava. Oh como não queria que isto estivesse se desenrolando assim. Como queria sentir o doce sabor deste vento que secava as lágrimas dela. Oh como queria segurar em seus braços e beijar-lhe os lábios.
Certo tempo passou. E ela ainda aconchegada, quase que imóvel.
Citando meu nome, ela adormeceu. Suas mãos leves, sobre o meu nome perderam os movimentos continuo que tinha. O vento percorria sua face, deixando rosada de frio. Seus cabelos levemente caminharam para o lado com ajuda daquele que pintava sua face rosa. Sua respiração de tão calma, parecia às vezes sumir dos pulmões.
A lua caminhava docemente sobre nossas cabeças. O vento cansado de correr por tanto tempo, acalmou. E como um anjo adormecido e caído ela continuava. Por um alguns minutos durante o sono dela, ouvi o meu nome saindo de seus lábios. Como um delírio. Apenas um sonho, apenas uma ilusão, uma mentira que caminhava com ela durante o sono. O tempo corria. A noite agonizava suas ultimas horas.
Então vi seus olhos abrirem, como um desabrochar de rosas. Pareciam cansados. Tristes. Seus olhos caminharam pelo local. Como se desejassem estar tudo ter sido um sonho ruim. Ela como sem força levantou-se. Sentou-se. Olhou para a noite, e para as estrelas que sumiam no céu, e disse:
- Voltarei.
Ficou de pé, e começou a caminhar. Percebi que tremia. O corvo este meu porteiro da noite gritou de medo sobre uma arvore. Como se descobrisse o desenrolar do que ia acontecer. Seu grito parecia ter desespero. Então ele voou para mais perto dela, para impedi-la. Mas ela apenas o olhou. Ela o admirou parada na sua frente e depois de alguns segundos voltou a caminhar. Até que sumiu atrás do portão do jardim dos esquecidos.
A noite ainda respirava na escuridão. E ainda demoraria a ir embora. Pelo menos um pouco mais de hora.
Sentindo o sabor do amanhecer, apesar de apenas uma parte da escuridão ter fugido. As estrelas, pelo menos as mais fracas e pequenas já tinha desaparecido. Restando apenas aquelas que só sumiriam um pouco antes do sol chegar. O sabor veio de um jeito diferente, como se a noite me trouxesse algo há mais agora.
E junto com os primeiros raios de luz que saíram do horizonte, junto com todo aquele calor que não podia sentir. Que quando eu estava vivo e sonhando, gostava de amanhecer esperando sentir esse calor. Mas agora não passa de uma lembrança. Mas algo naquele raio de luz estava diferente, como se um brilho a mais caminhasse na minha direção. Senti-me estranho, como se esta vida após a morte fosse trazer-me uma surpresa.
Do brilho espetacular e fantasmagórico que surgiu na luz do sol, se materializou aquela que estava apaixonado. Seu sorriso doce, belo, contagiante, procurou-me. Seus olhos pareciam triste, mais tristes que ultimamente, porém, suas lágrimas não vieram assim tão melancólicas, já que caíram num belo sorriso. Ela caminhou na minha direção. Não acreditava que ela percebia minha presença. Eu estava morto, por isso não podia sentir-me, nem olhar-me, a não ser que.
- Oi meu amor – disse ela, notei que sua altura ainda mantinha-se a mesma – não me chame de boba, não me der sermão, pois amo você.
- Também amo você.
E num campo um pouco distante, belo e iluminado pelo raio do sol, que neste momento entrava pela brecha dos galhos e folhas das arvores fazendo com que a grama verde tivesse um tom quase que brilhante. Um campo onde pássaros e borboletas voavam e dançavam por muitos dias, hoje foram surpreendidos por algo diferente.
Na grama, pegadas se faziam ser percebidas. Ignorando o silencio do local. Ignorando a beleza, indo profanar este jardim virgem, este paraíso perdido nos raios calorosos do astro-rei. Aquelas pegadas firmes. Sem sentimentos de retardação. Aquelas pegadas, a qual pés pequenos, brancos caminharam. Pés que neste momento estava há alguns centímetros do chão, sem motivos nenhum para continuar a tocá-lo. Pés que estavam frios, não pela falta de calor e sim pela fala de vida.
Aqueles olhos chorosos, brandos, claros e mortos. Olhos que transmitiam beleza e amor, olhos negros, cheios de vida. Olhos que vigiavam o mundo. Agora virados para o céu, como se pedisse clemência, como se pedisse perdão. Olhos chorosos. Olhos sem visão. Opacos.
No seio, estável, sem movimentos. O ar não percorria mais seus pulmões. Não oxigenava mais sua vida. Suas mãozinhas paradas, querendo cair ao chão. Querendo tocar a grama outra vez. Brancas. Seu vestido ainda era o mesmo do encontro na noite passada. Suas luvinhas eram a mesmas.
Somente algo fazia ser diferente, na dama vista naquela noite passada. No pescoço, não era apenas o colar com a cruz que o enfeitava. Era mais. Uma corda. Em seu pescoço, fazia-o ficar roxo. Apertando-o. Não deixando vida naquela que o colocou.
Seus lábios calados. Podia ainda sentir o cheiro, o odor das lágrimas que caíram neles. Agora essa boca, entre aberta, parecia não ter pedido socorro. Parecia apenas ter rezado. Ou apenas ter pedido para encontra seu companheiro.
A imagem que se via, a imagem que as borboletas e mariposas olhavam era uma garota, linda, que se desfez de sua própria vida. Deixou-a partir. Sem pedir para ficar. Como se algo além a esperava. A imagem que se via era uma garota, com uma corda no pescoço e na outra extremidade a corda amarrada num galho da arvore. Deixando-a alguns centímetros acima do chão. Uma imagem morta. Mas não menos bela.